abril 28, 2022

Por Catia Duarte*

Abril é o mês que nos faz um convite para, através do Dia Mundial da Saúde – dia 7 de abril, pensarmos, como sociedade, na importante jornada de promover e assegurar acesso à saúde para todos. Nesse ano, a reflexão passa, necessariamente, pelo impacto da Covid-19 para a saúde das pessoas e para a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

A pandemia atrasou diagnósticos, dificultou tratamentos e trouxe cargas adicionais em saúde mental e em doenças associadas que perduram para além do mero período da infecção do vírus em si, a COVID longa, como está sendo chamada.

Para além dos aspectos diretamente vinculados à saúde, o número de pessoas que perderam empregos e fontes de renda também impacta os sistemas de saúde, pois muitos tiveram que cancelar seus planos de saúde suplementar.

Esse cenário torna-se especificamente mais complexo ao colocarmos a dimensão de gênero na análise. Economicamente, pesquisas indicam que mulheres foram mais afetadas por demissões, por exemplo¹.

Em saúde, já há algum tempo, vemos mudanças nos padrões de prevalência de algumas doenças no quesito sexo. Doenças que afetavam mais homens, começaram a também fazer parte dos riscos de adoecimento por parte de mulheres, como as doenças cardiovasculares².

Segundo um recente levantamento da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), divulgado via Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), entre 2019 e 2021, o número de infartos em mulheres de 20 a 29 anos cresceu 23%. Já na faixa etária de 30 a 39 anos, o aumento foi de 38%.

Os especialistas atribuem a escalada de casos às mudanças no estilo de vida e alertam para o fato de que as cardiopatias em mulheres ainda são pouco estudadas no geral, gerando, consequentemente, questões como o subdiagnóstico e o subtratamento dessas doenças, expondo uma quantidade cada vez maior de mulheres aos riscos das doenças cardiovasculares (DCVs). Vale lembrar que as DCVs são uma das principais causas de morte no Brasil, com mais de 400 mil óbitos ao ano2.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que além dos fatores metabólicos, sexo, assim como renda, escolaridade, etnia, idade e orientação sexual também são determinantes importantes para o surgimento e agravamento de enfermidades nas populações, por, dentre outros motivos, impactaram o acesso à saúde3,4.

No caso específico das doenças cardiovasculares, especialistas indicam que colesterol alto, pressão elevada, diabetes e obesidade são os principais fatores metabólicos de risco, sendo que o risco é ainda maior para os que já sofreram um evento cardíaco ou um AVC5. Considerando que 80% das DCVs são preveníveis com tratamento e mudança de estilo de vida e com o crescente adoecimento de mulheres nesse quadro cardiovascular, um olhar adicional de gênero se impõe na busca por maior clareza e assertividade no desenho de soluções que assegurem os desfechos clínico e populacional desejados.

Como representante do setor de saúde, atuando em uma companhia que tem a diversidade, equidade e inclusão como alguns de seus principais compromissos, penso que precisamos ampliar o debate dessas frentes para não só transformar ambientes de trabalho, mas também reimaginar o acesso à saúde, dando visibilidade e estabelecendo parcerias que potencializem os esforços de combate às disparidades em saúde.

Na Novartis, nosso  objetivo de colocar os pacientes no centro de todas as nossas decisões nos move dia após dia para realizar parcerias estratégicas com diversos atores do sistema de saúde em prol da mudança deste cenário.

Estimulamos a educação e a participação ativa dos pacientes em seus tratamentos, e por meio de nossa área de Engajamento de Pacientes, colaboramos ativamente em campanhas de conscientização, pesquisas, coalizões, comitês e acordos de diversos tipos, guiados pelo propósito de impactar positivamente a vida das pessoas e do planeta.

A ambição é nobre e necessária na mesma proporção que o tamanho dos desafios a serem enfrentados. O fortalecimento do acesso sustentável à saúde com o combate às iniquidades de gênero e de outras naturezas precisa tornar-se prioridade de toda a sociedade.

*Diretora Corporativa de Comunicação e Engajamento de Pacientes na Novartis Brasil.

  1. https://www.ipea.gov.br
  2. Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, Souza MFM, et al. Estatística Cardiovascular – Brasil 2021. Arq. Bras. Cardiol. 2022;118(1):115-373.
  3. Lindley KJ, Aggarwal NR, Briller JE, Davis MB, Douglass P, Epps KC, Fleg JL, Hayes S, Itchhaporia D, Mahmoud Z, Moraes De Oliveira GM, Ogunniyi MO, Quesada O, Russo AM, Sharma J, Wood MJ; American College of Cardiology Cardiovascular Disease in Women Committee and the American College of Cardiology Health Equity Taskforce. Socioeconomic Determinants of Health and Cardiovascular Outcomes in Women: JACC Review Topic of the Week. J Am Coll Cardiol. 2021 Nov 9;78(19):1919-1929. doi: 10.1016/j.jacc.2021.09.011. PMID: 34736568.
  4. Health inequities and their causes (who.int)
  5. https://www.cardiometro.com.br/